Entrevista JC com José Carlos Marques

 

Confira abaixo a entrevista exclusiva concedida por José Carlos Marques ao Jornal da Cidade.

 

Filho de mãe dona de casa e pai ferroviário, José Carlos Marques, 69 anos, é o caçula de três irmãos. Ele nasceu em Marília (100 quilômetros de Bauru), mas se mudou para Bauru ainda no primeiro ano de vida. “Eu sou bauruense de coração”, orgulha-se e depois descreve com saudosismo a casa simples do Jardim Bela Vista, onde foi criado. Há quase meio século, ele entrou na área de educação e não mais saiu. Hoje, é diretor administrativo do Preve Objetivo.

Embora seja formado em direito pela Instituição Toledo de Ensino (ITE), a paixão de Marques está nas escolas. Foi durante a faculdade que tudo começou. Em 1967, ele conheceu os irmãos Paulo Américo da Silva Teles e Nelson da Silva Teles, que eram proprietários dos Cursos Brasília, um tipo de supletivo. Marques começou a trabalhar com os colegas de sala e, em 1978, foi convidado a ocupar o cargo em que está até hoje.
 
O trabalho de quase meio século na área deu a Marques o título de professor, como é chamado por todos que o conhecem. “Mas eu não tenho jeito para dar aula, não”, diz. Pai de Ana e Alexandre, marido de Joana e avô de Vinícius, o educador coleciona boas histórias, expressa opiniões firmes sobre temas polêmicos da área em que atua e sente orgulho por ter contribuído para o sucesso de muitos ex-alunos. Leia mais a seguir.

Jornal da Cidade - Como o senhor se descobriu na área de educação?
José Carlos Marques - 
Eu comecei muito cedo na área, com apenas 22 anos. No ano de 1967, eu conheci dois irmãos quando eu fazia direito na ITE. Eles eram donos de uma escola de madureza daqui de Bauru, uma espécie de supletivo. Os dois precisavam de alguém que os auxiliasse no sentido de levar os alunos para prestar exame de madureza pelo País e eu fui chamado para o serviço.

JC - Mas por que resolveu ficar até hoje?
José Carlos - 
Por sentir a vontade daquele pessoal antigo que não teve muita oportunidade de estudar na época correta. Foi o que me deu um gosto muito especial pela educação. Em 1978, o Duda e o Zé Luiz, que são donos do Preve Objetivo, eram professores nos Cursos Brasília, onde eu trabalhava, e me convidaram para trabalhar no colégio recém-aberto por eles até então. Quando a gente ama o que faz, não tem sentido deixar de fazer, né?

JC - Como era o Preve Objetivo em 1978?
José Carlos -
 Ah, era legal demais. Nós tínhamos alunos excepcionais, como temos hoje. Eles correspondiam às nossas expectativas. Chegava a dar gosto de trabalhar. Naquela época, não existiam as informações disponíveis hoje em dia. Além disso, os cursos e as universidades eram limitados. Portanto, como tínhamos poucas universidades, a concorrência era grande e todos tinham de estudar muito mesmo.

JC - Como era a escola na época em que o senhor estudava?
José Carlos -
 Eu sempre estudei em escola pública, já que meus pais não tinham condições de pagar. Os professores eram como uma autoridade, o que é totalmente diferente dos dias atuais. Hoje, eles são mais amigos dos alunos, porque vivem a mesma realidade dos estudantes. Frequentam até as mesmas baladas ou bares, por exemplo. Na minha época, os professores eram bem mais velhos e bastante rigorosos.

JC - Como foi a infância do senhor?
José Carlos - 
Minha infância foi muito boa. Inclusive, até hoje tenho contato com os meus amigos desta época. Nós brincávamos na rua e subíamos em árvores. Não éramos como as crianças de hoje, que ficam trancadas em casa. Além disso, eu morava em frente à piscina Recreio, um dos primeiros clubes de Bauru, e gostava de praticar natação. Só não segui no esporte porque comecei a desenvolver algumas alergias.

JC - Gostava de estudar?
José Carlos - 
Eu gostava de estudar, sim, apesar das dificuldades. O meu pai era ferroviário e tinha muita dificuldade para dar estudo para a gente. Tanto que só estudei em escola pública, praticamente. Depois, eu fui fazer um curso técnico de ciências contábeis no Senac Bauru. Quando me formei por lá, já emendei com a ITE, onde terminei o curso de direito em 1969. Nunca pratiquei esta profissão, porque me descobri em outra.

JC - Quais os maiores desafios dos educadores nos dias atuais?
José Carlos -
 Os alunos são bombardeados de informações por conta da Internet e os professores têm de estar em sintonia com isto. Contudo, ao mesmo tempo em que as tecnologias são aliadas, elas também atrapalham. Para mim, o maior vilão da escola é o celular. É difícil competir com ele. Já vi vários casos de alunos que saem da aula para atender o celular e, normalmente, as ligações provêm das próprias famílias deles.

JC - Como os professores devem lidar com essa “concorrência”?
José Carlos - 
Nós procuramos orientar todas as famílias lá no Preve Objetivo. Se tiverem algo urgente para conversar com os filhos, que liguem na escola antes. Outra atitude que tomamos é durante as provas. Como nós já flagramos estudantes tentando ‘colar’ por meio do celular, fazemos com que todos desliguem os equipamentos e os deixem em cima da mesa do professor.

JC - Como o senhor vê os professores sem muita experiência?
José Carlos -
 Olha, quando eu tinha 18 anos, prestei um concurso para uma grande empresa daqui com outros 45 candidatos. Eu fui classificado em 1º lugar para um cargo de chefia. Porém, na hora da entrevista, eu fui preterido pelo 2º lugar, porque disseram que eu era muito jovem para assumir um cargo de chefia. Este fato marcou muito a minha vida e, por isto, gosto de dar oportunidade para os professores novos.

JC - O que o senhor pensa sobre o ensino a distância?
José Carlos -
 Eu sou totalmente contra, porque o conceito do ensino a distância foi deturpado. Tem aluno que mora em uma cidade onde existe uma gama de cursos em boas faculdades públicas e particulares e, mesmo assim, opta pelo ensino a distância. Outro ponto é que o estudante só aprende se estiver em uma sala de aula, com um professor escrevendo na lousa a giz.

JC - E em relação às cotas nas universidades?
José Carlos - 
Este também é outro aspecto um tanto quanto polêmico. Eu sou contra, porque é uma discriminação. Por quê um aluno vai ter privilégio em cima de outro? Muitos que entram através de cotas acabam desistindo, ou seja, tiraram as vagas de outros alunos que tinham condições de concluir o curso. Na verdade, o justo seria que os estudantes que podem pagar façam faculdades particulares e aqueles que não podem, que entrem nas públicas.

JC - Qual a lição que o senhor deixa aos professores?
José Carlos - 
Eu acredito que os professores têm de oferecer o melhor deles para os alunos. Os mestres também têm de orientar os estudantes quando tiverem qualquer dificuldade, até que atinjam um estágio de realização profissional. Diversos alunos brilhantes passaram pelas mãos de professores orientados por mim e, até hoje, eles me agradecem.
 
JC - O que o senhor sente quando revê um ex-aluno que alcançou sucesso?
José Carlos -
 Eu sinto muito orgulho, verdade. Eu até me emociono. Enfim, eu fico ainda mais feliz pelo reconhecimento por parte dos ex-alunos. Eu tenho 47 anos de profissão e é praticamente impossível eu me lembrar de todos. Mas os alunos sempre se lembram de mim. Não só da direção, mas dos professores, funcionários e todos aqueles que contribuíram para que eles alcançassem sucesso. Eles têm muito carinho por nós e é recíproco.

 

Perfil
Nome: José Carlos Marques
Idade: 69 anos, mas completo 70 no próximo dia 15
Local de Nascimento: Marília, mas sou bauruense de coração
Signo: Escorpião
Esposa: Joana Elisabete M. Marques
Filhos: Ana Lucia Marques e Alexandre Luiz Marques
Hobby: Pescaria. Eu costumava cultivar pimenta, mas parei por falta de tempo. Inclusive, ensinei muita gente a comer pimenta
Livro de cabeceira: Não tenho preferências
Filme preferido: Todos de suspense
Time de futebol: Corinthians
Estilo musical predileto: Sertanejo universitário
Para quem dá nota 10: Para todos os professores do ensino fundamental ao médio
Para quem dá nota 0: Para aqueles que não apoiam a educação
 
Fonte: http://www.jcnet.com.br/Geral/2014/11/entrevista-da-semana-jose-carlos-marques.html
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